Nas histórias marcantes do mundo quase sempre há uma
personagem principal que acelera a ação. Em muitos casos esse personagem é
alguém que nos admiramos e através de atos apropriados consegue resolver algum
problema. Mas não sempre é assim. Existe também uma espécie de personagem
chamado anti-herói. O Anti-herói é o personagem principal, mas não age como
herói típico. O anti-herói frequentemente tem algumas falhas e fraquezas que
salientam uma verdade sobre humanidade e muitas vezes acabam destruindo a pessoa.
No teatro O Pagador de Promessas Dias
Gomes usa Zé de Burro como um anti-herói para mostrar a corrupção presente nos
conceitos de tradição, inocência e ambição aceitos pela sociedade.
Uma das forças mais poderosas numa cultura capitalista
é a ambição. Várias vezes nO Pagador de
Promessas Gomes faz um comentário dessa ideia através da falta completa de
ambição em nosso anti-herói. Uma das primeiras mostras dessa ambição egoísta se
encontra no Repórter. Ele vem ao Zé sem saber nada da situação já pronto a
fazer uma história da situação. As primeiras palavras para sair de sua boca são
“Repórter: Parabéns! O senhor é um
herói.” “Zé: Herói?” (p. 85) Zé mesmo
luta contra o título de herói, não querendo provar nada a ninguém, mas mesmo
assim, o Repórter coloca uma história no jornal fazendo ele quase um
revolucionário. Sem pensar nas consequências, o Repórter procurou tirar a maior
vantagem que podia da situação. Logo em seguida Galego da vendola procura
beneficiar dos problemas de Zé também. Ele chega ao Zé oferecendo comida de
graça “[Zé] promete no arredar pé de acá” (p. 144) Galego entende o que está
acontecendo, mas mesmo assim só pensa no negócio dele. À outra mão Zé age o
anti-herói, negando toda promessa de fama ou ajuda. Ele só quer cumprir a
promessa dele e isso é algo que a sociedade não consegue entender. Todas as
pessoas continuam tentando achar o ângulo do Zé até o final.
Afinal das contas O Pagador de Promessas é uma história
sobre a corrupção dos valores da sociedade em Brasil. Dias Gomes usa Zé de
Burro como um anti-herói para mostrar a diferença entre o que as pessoas fingem
que acreditam e o que realmente valorizam. Zé de Burro é um homem ingênuo que
não consegui existir num mundo que ataca inocência e somente buscar satisfazer
a ambição. Embora que das ações do Zé de Burro não sejam justiçados, Dias Gomes
deixa bem claro que tem algo muito errado com uma sociedade que procura punir
uma pessoa por suas crenças e falta de conhecimento. Ao jogar Zé de Burro sobre
as forças de tradição, inocência e ambição podemos ver que aquilo que não
conforme com a sociedade nem sempre é errado.